No universo dos bebedores, os devotos do uísque parecem pertencer a um mundo à parte. Ao estilo “cowboy” ou “on the rocks”, bourbons, escoceses e irlandeses são as preferências desse público quando a ideia é bebericar algo mais potente. No extremo oposto, estão os fãs de drinques. Para eles, a variedade de sabores, a possibilidade de beber algo mais doce, amenizado por gelo, sodas e frutas é algo muito mais interessante. Essa dicotomia pode ser a explicação para, no Brasil, drinques de uísque serem tão poucos consumidos. Mas essa cena está mudando.
De olho na onda da coquetelaria, fabricantes de uísque já se posicionaram para conquistar mercado maior. Amparados por seus “mixologistas embaixadores”, modinha que pegou no Brasil, divulgam receitas em que o destilado pode, com sucesso, substituir a vodca. “Em Londres, por exemplo, drinques com uísque são comuns porque existe um hábito local de tomar bebidas fortes”, afirma James Guimarães, mixologista da Pernod Ricard Brasil. Ele lembra que os primeiros coquetéis criados no mundo foram com o destilado de cevada.
Para os barmen de fim de semana ou iniciantes no consumo dessas bebidas, aí vai uma dica importante: combinar uísque com outros ingredientes não é tão simples quanto com o destilado russo. A começar pelo sabor marcante: ao contrário do que acontece com a vodca, o uísque tem de ser o protagonista do drinque – o que praticamente impossibilita a mistura com outros destilados.
Outro fator que dificulta a elaboração de um coquetel é a variedade de estilo dos uísques. Como possuem características muito mais marcantes que os diferentes tipos de vodca, precisam ser estudados antes de misturados a frutas, bitters e afins.
Para cada estilo, uma combinação
Eduardo Rotella, embaixador da marca Chivas no Brasil, explica que o estilo mais flexível para a coquetelaria é o escocês. “Eles têm muito mais aromas reunidos em uma só bebida. Até pelo processo de criação do blend (mistura de diferentes uísques que vão originar cada rótulo)”, diz.
Além disso, a Escócia é o único país que usa a turfa (espécie de carvão vegetal, que confere sabor defumado à bebida) no processo de secagem da cevada. “O uísque escocês fica bom em drinques mais fortes. Com baunilha, chocolate, frutas cítricas e bitters, principalmente Angostura”, afirma James. Mesmo assim, é preciso ficar atento às características de cada marca – são mais 1500 em todo o País.
Por conta de suas características menos complexas, os irlandeses são mais fáceis de combinar. “Suco de maçã, de cranberry, chás gelados e refrigerantes em geral podem ser usados em long drinques bem refrescantes e fáceis de fazer”, afirma James.
Já o Bourbon (não confundir com o Jack Daniel’s, que é um Tennesee) é envelhecido em barris virgens e, por isso, tem sabores bem mais amadeirados e potentes. Outra característica é seu natural sabor adocicado, proveniente do milho usado como matéria-prima na composição da bebida. Essa intensidade costuma combinar melhor com sabores cítricos intensos, drinques com ovos (os “sours”, com textura espumante garantida pela clara de ovo, e os chamados “flips”, que podem ser bebidos quentes). Um bom exemplo é o mais clássico dos drinques feito com a bebida, o uísque sour, que leva limão, açúcar, clara de ovo e gelo.
Matéria-prima de qualidade (quase sempre) faz bons drinques.
Matéria-prima de qualidade (quase sempre) faz bons drinques
Apesar da concepção dos drinques com uísque ser mais complexa, há alguns macetes para acertar na combinação. Talita Simões, chef de bar e proprietária do At Nine Cocktail Bar, diz que ao contrário do que muita gente pensa, drinques com uísque não precisam ser quentes e podem compor receitas refrescantes (como o Mint Julep, que mistura 60ml de Bourbon, 15ml de xarope de açúcar, hortelã e gelo).
Para ela, as melhores combinações são com frutas vermelhas e cítricas. “Já as tropicais, como o abacaxi, são mais duvidosas.” Evitar receitas usualmente feitas com vodca também é aconselhável.
E nada de usar uísque vagabundo. “Está provado que quanto melhor forem os ingredientes, melhor será o drinque. O que acontece é que muita gente acha um sacrilégio usar um uísque que foi feito com muito esmero e envelhecido por muitos anos para fazer coquetéis”, afirma Rotella. Talita narra boas experiências com uísques premium. “Já tomei um coquetel excelente com manga, gengibre e Johnnie Walker Green Label, que tem aroma de mel”, afirma.
Marina Fuentes, especial para o iG São Paulo
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